16.7.15

Poder da vida


"Quero que sejas aquilo que és". É nesta liberdade que a confiança ganha raízes, é aí que reside a confirmação do amor. "Só uma fé desta natureza" acrescenta Heidegger, que enquanto fé no outro é amor, consegue verdadeiramente captar o  "tu". " Amar é assim , captar o "tu" deixando ao mesmo tempo ser, quer dizer sem tentar possuí-lo. Entregue ao que nos ultrapassa, não podemos com efeito apropriar-nos dessa doação que nos é feita, só podemos recebê-la."

"Que dirá Arendt no seu Diário do Pensamento? " O amor é em primeiro lugar o poder da vida; nós pertencemos aos vivos, dado estarmos às ordens desse poder. Aquele que nunca sofreu esse poder não vive, não faz parte dos vivos". Há contudo um "fardo", uma mancha, uma responsabilidade que regressa àquele que recebe essa doação e deseja viver realmente o amor sem o "desfigurar".  Está a nosso cargo crescer à sua medida" diz Heidegger. A gratidão que se sente obrigatoriamente pelo amado, pelo intermediário, por meio do qual esta graça é nos concedida, deve metamorfosear-se em "lealdade consigo próprio". Colocar-se ao serviço do amor puro é então "manter essa doação de si mesmo tão viva como no primeiro dia". Um primeiro sentido de felicidade?"

Aude Lancelin, Marie Lemonnier In Os Filósofos e o Amor, Excerto do capítulo: Martin Heidegger e Hanna Arendt, "O Bater de Asas de Eros", Pgs. 220,221, Lisboa, 2015, Ed. Tinta da China

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