19.9.19

Treino





























































" Aquele que se libertou de todos os laços deve praticar uma arte, utilizando o pleno poder da sua presença de espírito, não perturbado pela intenção, por mais oculta que esteja. Mas para que ele consiga, em perfeito esquecimento de si, inserir-se na realização formal, tem de se abrir caminho à prática dessa arte. Se, imerso em si mesmo, fosse confrontado com uma situação à qual não se conseguisse adaptar instintivamente, ver-se-ia obrigado a trazê-la à consciência. Regressaria com isso a todos os laços de que já se havia libertado, assemelhando-se a quem acorda e programa o seu dia, e não o homem desperto que vive em estado primordial, e age a partir dele. Desse modo, nunca teria a sensação que os elos do processo de realização lhe passam pelas mãos como um jogo da divina providência; não experimentaria nunca com que êxtase se pode transmitir a elevação de um acto ao que, em si, consiste apenas numa vibração, e como tudo o que faz, está feito, mesmo antes de ele o saber. Porque muito está dependente disso, o desprendimento e libertação exigidos, a interiorização e concentração da vida até à máxima presença de espírito, não devem ser descurados ou deixados ao acaso, ou à sorte, confiando que as forças necessárias ao processo criador, e com isso também a concentração, surjam por si mesmas. Pelo o contrário, é antes de todo o fazer e realizar, antes de todo o entregar-se e integrar-se que esta presença de espírito é convocada e assegurada pelo o treino."
Eugen Herrigel,In Zen e a Arte do Tiro com Arco, Pag.42-43, Assírio e Alvim, Lisboa, 1997


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